Neste ano completei 10 anos (sem contar o estágio de iniciação à docência) como professor. Durante esse tempo, aprendi muito mais do que ensinei. Mas não estou aqui para falar destes clichês (muito menos para propor uma daqueles artigos do tipo "10 lições que aprendi em 10 anos de magistério"...). Meu objetivo é discutir uma única coisa que aprendi e continuo aprendendo nestes 10 anos: dignidade humana.
Dignidade aqui se refere a fazer o que você pode com os recursos que você tem. É sobre não esperar dos outros nem mais, nem menos do que se espera de si mesmo. Isso se aplica principalmente a desaprender o que nossos entornos nos ensinaram enquanto crescíamos.
Enquanto amadureci enquanto pessoa, desaprendi várias das coisas que me foram ensinadas por outras pessoas com as quais convivi, de familiares, a amigos e educadores. Lições de vida que não eram necessariamente erradas, mas que tão pouco se aplicavam a mim. Eram formas de ver mundo que se refletiam nas ações de pessoas batalhando seus próprios demônios e, portanto, não tinham nada a ver comigo.
Como professor, tive que encarar muitas de minhas ansiedades (medo de falar em público e de falhar sendo duas das maiores). Eu tratava cada aula (e por extensão, cada encontro social) como um ambiente onde se espera ser compreensível e aberto ao diálogo, ao mesmo tempo, e sem falhas.
Desaprendi, com os anos lecionando, o papel das falhas, minhas e de meus alunos, dentro e fora da sala de aula. Erros, tropeços e mal-entendidos são, na verdade, passos inevitáveis ao lecionar e aprender. Portanto, falhar é parte natural do processo e deve ser tratada como tal, estendo e esperando a empatia tão necessária ao processo de ensino e aprendizagem.
Se tem uma lição que aprendi com a sala de aula é que não se aprende com a sala. Aprende-se (e desaprende-se) com as pessoas com as quais nos conectamos por meio dela. Dignidade humana é o que se aprende com os laços sociais que criamos na vida, da capacidade de estender a empatia a si mesmo e àqueles à nossa volta.
Lecionar é espalhar a dignidade humana.
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