Quando lendo uma postagem de LinkedIn do professor Mário Sérgio Cortella sobre perseverança (https://www.linkedin.com/posts/mario-sergio-cortella_pracegover-activity-6892085667304652801-27nh), utilizando uma frase do jogador de basquete Kobe Bryant, pensei em comentar minha opinião sobre o assunto.
Perseverança e trabalho duro são necessários para obter o sucesso, concordo. Tudo que é significativo demanda algum esforço, algum "sair da zona de conforto".
Algumas zonas de conforto são maiores que outras, o que é psicológico, a meu ver, e alude a questão da responsabilidade individual que cada um tem pelo seu sucesso. Entretanto, é inegável que algumas pessoas precisam de mais perseverança que outras para chegar ao sucesso. Não por questões psicológicas, mas sociais. Liberdades invisíveis das quais muitos são privados e dificultam (quando não inviabilizam) o sucesso.
É fácil ver pessoas que possuíam desvantagens sociais e "venceram na vida" dizerem que é só trabalhar duro que se chega lá. Isso acontece em grande parte porque essas pessoas não querem que suas dificuldades de vida os definam, o que é totalmente válido. Porém, essas falas apagam e invalidam outras experiências, as quais são desnecessariamente dificultadas por questões que nada se relacionam com trabalho duro: a desigualdade social que poderia ser remediada por meio do esforço coletivo para mitigar essas e outras dificuldades sociais.
Pensando na minha própria história, posso dizer que ralei muito para ter a sorte que tive. Trabalho duro foi parte do necessário para alcançar o sucesso profissional que tenho hoje, como acadêmico e professor. Vindo da comunidade do Salgueiro, era muito provável que eu acabaria minha jornada escolar no ensino médio (não que essa escolha seja um problema, mas a falta de autonomia para seguir outro caminho é o que me preocupa), se eu tivesse terminado a escola. Muitos não tiveram o mesmo privilégio, como meus pais. Você olharia na cara de meus pais e diriam que eles simplesmente não se esforçaram o suficiente e por isso, não terminaram a escola? Acho que não...
Meus pais escolheram entre me dar a possibilidade de escolher um dia, através de seu trabalho duro. A favela, entendida como um espaço de exceção, é excluída de liberdades de escolha que dariam aos seus moradores o real acesso à escolha de "trabalhar duro" para ter o que querem de suas vidas. Se tivessem escolha, meus pais teriam talvez conseguido ter uma vida mais fácil, enquanto me dando a possibilidade de ter sucesso profissional no futuro.
Eu, por minha vez, não tive a vida profissional das mais fáceis. Sou professor a 12 anos, uma profissão que me fez desaprender muita coisa, como já disse outrora. Uma das coisas que desaprendi (se é que aprendi de fato em algum momento, apesar de ser ensinado por minhas circunstâncias), é que sucesso é uma combinação de sorte e trabalho: trabalhar para estar no lugar certo, na hora certa. Por exemplo, se você considera que ter chegado ao cargo de professor substituto da UFF (em 2019) foi pura sorte, você estaria enganado. Eu estudei e ralei muito para passar na prova (na segunda tentativa).
A questão é: eu precisaria fazer tanto esforço assim se eu tivesse acesso a uma universidade próximo da minha casa? Sem o apoio financeiro de meus pais (com uma casa e auxílio no pagamento dos boletos) e da Universidade (na forma das várias bolsas e programas que participei durante minha graduação)? Talvez não.
Em suma, sem essa combinação de esforço e do momento certo, minha carreira não seria o que ela é hoje, considerando que ela passou por cinco anos "no limbo". Mas essa história é para outro dia...
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